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I - Um dia de sobrevivência

Pedro

Sempre senti vergonha de ser quem eu sou, pois sou negro e tenho um irmão homossexual, mas tudo isso vai mudar. Não, eu não vou deixar de ser negro e muito menos o meu irmão deixará de ser homossexual, só preciso parar de mentir pra eu mesmo, vou deixar pra trás esse mundo de mentiras.
Hoje estou na faculdade graças às cotas raciais, que há princípio todos tratam essa atitude do governo como uma atitude preconceituosa, mas é inegável que nós negros somos inferiores em alguns sentidos, econômicos principalmente.
Curso ciências sociais e nesse momento estou indo à polícia denunciar um ato de racismo que fui vítima agora há pouco.
Estava eu indo à farmácia, para comprar um analgésico, quando entrei, todos me olharam de cima a baixo, meu traje era simples, de chinelos, uma bermuda marrom e uma camisa preta, até então tudo bem, foi então que o segurança me abordou dizendo:
- Senhor, não pode entrar aqui.
- Por quê? - Questionei.
Ele apontou pra mim, indicando minhas roupas.
- Do que você está falando? Das minhas roupas?
- Sim. - Respondeu ele.
Foi então que olhei o interior da farmácia, e havia um homem, de bermuda, camiseta e chinelo, assim como eu estava, havia um única diferença, uma característica, característica essa tratada com tanta brutalidade: a cor, mais precisamente a cor da pele. Sim, era um homem branco, com os trajes exatamente iguais aos meus.
- Então o que pode me dizer daquele homem?  - Apontei.
Ele se virou e voltou pra falar comigo rapidamente.
- Aquele branquinho?
- Sim, aquele ser humano com a pele de cor branca, vestindo roupas bem semelhantes a minha, não vai tirá-lo daqui? Bom, porque dada sua explicação nenhum de nós dois está apropriadamente adequado para adentrar esse lugar.
O segurança apertou o cinto e coçou a cabeça, me olhou novamente e disse:
- Mas você é... é...
- Negro? - Interrompi sua gagueira - é isso que você ia dizer?
As pessoas que estavam por perto somente olhavam e cochichavam. Me veio uma inquietação e disse à todos que assistiam:
- Até quando vocês irão ser espectadores da injustiça? Até quando vão se omitir? Até quando vão fechar os olhos para os seus irmãos? Não importa qual é a sua religião, falo de respeito e igualdade, duas coisas que fazem parte da vivência em sociedade, é o seu caráter que importa!
Depois de dizer isso me retirei e peguei o caminho até a delegacia. O atendimento foi péssimo, mas fiz minha denúncia, porém sinto que tudo vai piorar.
Meu nome é Pedro, são dez horas da noite de uma sexta-feira e estão vindo na minha direção dois homens de roupas pretas com os rostos tampados.

***

Jéssica

Chegou o fim de mais um dia de trabalho e luta, estou indo dormir, é quase meia-noite, ouço vozes e um tumulto do lado de fora da minha casa, visto uma roupa rapidamente, pulo pra fora de casa e é difícil de descrever o que vejo, tem uma ambulância parada bem em frente à minha casa, estão colocando a pessoa no carro, um jovem negro, eu consigo reconhecê-lo, o nome dele é Pedro, meu nome é Jéssica, namorada dele.
Saio de casa e corro as pressas até a ambulância, não consigo parar de chorar, ele foi baleado com três tiros no peito, ele ainda está respirando, entro na ambulância e aos prantos faço uma ligação.
- Alex? É a Jéssica, seu irmão foi baleado!
- O quê? Onde você está? - Pergunta desesperado.
- Estou indo para o hospital - Respondo.
Dei à ele o endereço e desligo o celular, ainda procuro entender o que está acontecendo, fecho os olhos e as lágrimas caem, abro os olhos novamente e olho para o bolso da calça de Pedro, eu não consigo acreditar no que vejo, é um bilhete, disfarço e o enfermeiro que me acompanha diz:
- Mantenha a calma, eu não sei como é possível, mas ele vai sobreviver!
- Você está falando sério?
O enfermeiro acena com a cabeça em afirmativo.
- Ai meu Deus! Por favor, não deixe ele piorar, ele ainda é jovem! - Digo.
Continuo chorando sem parar e desesperada, quando o enfermeiro vira o rosto, eu pego o bilhete e guardo comigo.
Depois de quinze minutos, com a ambulância em alta velocidade, chegamos ao hospital, tudo acontece muito rápido, os médicos o levaram para a sala de cirurgia. Segundo eles, as balas não atingiram o coração, mas ele está sangrando muito e precisam retirar as balas, fico desesperada mas eles me tranquilizam novamente.
 Alex chega ao hospital e lhe dou um abraço.
Passam-se três horas, a cirurgia foi um sucesso, lembro-me do suspeito bilhete que encontrei e vou até o banheiro para lê-lo, leio o bilhete diversas vezes, mas não consigo compreender:
"A LIBERDADE É UMA FANTASIA, TUDO VAI MUDAR"
Guardo o bilhete no bolso e saio do banheiro, volto a fazer companhia ao Alex e imediatamente depois um médico vem até nós e diz:
- Alex e Jéssica?
- Sim? - Respondemos ao mesmo tempo.
- Ele acordou, podem ir vê- lo.



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