Para começo de conversa, eu quero dizer que eu não tenho a mínima e basicamente nenhuma obrigação em escrever esse texto ou no caso me expor, porém sinto uma necessidade de falar sobre o assunto para que eu finalmente me sinta livre para ser quem eu sou, aliás, já tem basicamente 1 ano que de certa forma “me assumi” publicamente, você que está lendo este texto deve ter visto uma publicação que fiz no instagram há mais de um ano, na época das manifestações antifascistas, se não viu, está ciente agora.
O ponto é, que aquela publicação causou um certo rebuliço na época em alguns dos meus círculos sociais, que não cabe colocar em detalhes, porém aquilo na época me doeu bastante, entretanto, eu quero deixar claro que eu não estou nem aí para a opinião alheia, ou no caso o preconceito alheio, a homofobia, a bifobia.
Tendo isso em mente, ressalto que não estou querendo me justificar ou me explicar, eu não devo nada à ninguém; estou ressaltando isso para que quem está sabendo através deste texto esteja ciente de que, o que você pensa ou deixa de pensar sobre o outro, é seu problema, e não meu; agora se para você essa nova informação não faz a menor diferença, e se realmente gosta de mim e quer saber mais sobre isso, você está no lugar certo.
Faz basicamente 5 anos que tenho pensado e refletido sobre minha sexualidade, e particularmente pra mim, sexualidade sempre foi um dilema, por eu ser uma pessoa muito reprimida, com muitas inseguranças, porém de uns tempos pra cá tenho me reconhecido como uma pessoa totalmente diferente.
Nunca tive dúvidas que gostasse de meninas, e não tenho nenhuma dúvida mesmo, porém se reconhecer gostando de meninos também sempre foi difícil de entender, porque a sociedade nos impõe que “escolhamos” um lado, ou se é gay, ou se é hétero; “como assim bi?”, e sem falar que para a sociedade em geral, a partir do momento que você diz que gosta de meninos ou que beija meninos, aí você já é visto como gay, não que isso seja um problema, pelo contrário, mas a falta de referência causou muita confusão interna no meu processo de se descobrir LGBTQIA+, é só parar pra pensar: quantos homens assumidamente bis você conhece?
Pois é, muitos preferem ficar publicamente do “lado hétero” do que se arriscar ao se relacionar com outros homens, porque afinal são muitos os privilégios do homem hétero na sociedade, não é mesmo? Por que me arriscaria numa sociedade homofóbica se eu posso escolher ficar com mulheres? Essa que é a questão, entretanto isso não impede que esses homens se relacione com outros homens, eles só o fazem de forma sigilosa.
No meu processo ainda me aparece essa questão, apesar de ficar com homens ser bem mais prático, o que é uma questão muito curiosa, muitos dos homens bis não se assumem como tal.
Particularmente eu tive um processo difícil de aceitação e de reconhecimento da minha sexualidade, depois que percebi que a letra B da sigla do LGBT era de bissexual, e que ao pensar sobre o rótulo, ver que fazia sentido, senti muita dificuldade de aceitar aquilo, porém a cada ano, a cada dia, ser bissexual faz mais sentido ainda, e que bom, agora eu me conheço de verdade.
Ainda com relação ao processo de descoberta, quando a gente se reconhece LGBT, lembranças começam vir à nossa mente, lembranças da infância, da adolescência, de crushes que a gente tinha, não cabe aqui ficar falando os meus (rs), mas foi curioso perceber isso. Inclusive me recordei de um fato da minha quinta série, curiosamente foi lembrar dessa memória reprimida que me fez repensar toda minha vida e minha sexualidade, a memória surgiu na minha mente numa conversa com um amigo, quando ainda tinha convicção de que era hétero (rs).
Na época da minha quinta série, havia um menino que hoje eu reconheço que tinha um crush, porém na época eu não entendia o que estava acontecendo, eu olhava pra ele da mesma forma que havia olhado as meninas que eu tinha um crush até ali, e eu com 10 anos naquele tempo, me vi sentindo aquilo e reprimi, como quem diz: “eu não posso sentir isso, ele é um menino”, e eu lembro com muita clareza desse sentimento, esse incômodo, que eu não sabia da onde vinha; aliás recentemente eu descobri que aquele menino se reconheceu como gay, será que meu gaydar já estava funcionando na época? (kkk), mas eu acho que só funcionou naquele tempo mesmo. Ah, para quem não sabe, “gaydar” é uma espécie de “radar” que temos, para dizer se uma pessoa é LGBT ou não, uma intuição, mesmo que às vezes a pessoa não seja assumida, a gente meio que já sabe ao interagir com ela.
Bom, de lá pra cá, as coisas foram ficando mais claras para mim, e eu via que o B do LGBT se aplicava muito bem à mim, e isso foi se tornando cada vez mais natural. Hoje estou muito mais ciente de quem eu sou, de quais são meus desejos, por quem eu me atraio e nada é capaz de tirar o prazer que é se conhecer, a gente sente medo, por conta da sociedade, porém a gente sente orgulho, porque é da gente que estamos falando, é desse longo processo de aceitação e de reconhecimento.
Este texto tem tudo para virar um vídeo para o meu canal, que eu há muito tempo tenho vontade de fazer, porque afinal, quase não se encontra referências de homens bissexuais na internet, é claro que hoje tem muito mais, mas ainda precisa de mais conteúdos como esse, para que outras pessoas também possam se entender e se reconhecer, principalmente os homens que ainda tem muitos tabus a serem trabalhados.
Bom, é isso que eu acho que tinha para dizer, tenho consciência de que esse texto pode reverberar de diversas formas, mas para mim, ele só tem coisas positivas, e se você que soube através desse texto, chegou até aqui, agora você conhece um pouco mais de mim, para as outras pessoas que eu amo, meus amigos, e familiares que já sabiam, obrigado por tudo, como sempre.
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