SÉRIE DE CONTOS - O FUTURO EM QUE NÓS NÃO QUEREMOS VIVER - Parte 1

OLÁ GALERA! Esse é o meu blog, se você está aqui pela primeira vez através do meu instagram, bem-vindo!! Algumas palavrinhas antes de começar. Essa série de contos é acima de tudo um exercício de reflexão, nessa série de contos, há elementos históricos do nosso país, e há elementos da atualidade, o exercício que proponho aqui é: O que pode acontecer no Brasil e no mundo se tudo de ruim que puder acontecer, acontecer de verdade? Não estou romantizando as tragédias e nem querendo me promover através delas, o intuito é pensar: estamos no caminho certo? Você que está lendo isso, está satisfeito com o Brasil? Entende a gravidade de nossa situação atual?



O FUTURO EM QUE NÓS NÃO QUEREMOS VIVER


I

16 de novembro de 2042

Tudo começou há 22 anos atrás. Eu começaria a contar essa história me apresentando, mas por motivos de segurança e por prezar pela minha privacidade, ainda não me revelarei, quem sabe, até o fim dessa história, com o desenrolar dos acontecimentos eu tenha a oportunidade de me apresentar.

A princípio, vamos estabelecer algumas ideias primordiais, para que tudo seja claro, esta não é uma história de super herói, de terror, de magias, de anjos, demônios, de nada do gênero, esta história que estou prestes a contar é uma história sobre a realidade, e como ela às vezes pode parecer tão sombria, essa é uma história sobre nós, seres humanos comuns, mas capazes de fazer atrocidades e coisas terríveis quando estamos apaixonados, extasiados por uma causa ou pensamento, por uma ânsia de fazer parte de algo, perdemos a noção do que é aceitável, do que é moral, e em se tratando de Brasil, que é de onde eu sou, do que é moral cristã, de que tanto falam, de boca cheia.

Eu queria ter tido escolha, eu queria ter tido poder pra evitar tudo que aconteceu, mas eu sozinho não sou capaz de desconstruir todos os laços que este sistema dá, todo este sistema de opressão, capitalista, fascista, nazista, racista, machista, misógino e homofóbico. 

Esta é uma aula da história, o Brasil tem uma história recheada de sangue, e o sangue da morte de muitos está na mão dos mesmos, está na mão dos latifundiários, está na mão dos fazendeiros, dos banqueiros, dos pastores/padres neopentecostais, em suma dos fariseus dos nossos tempos; já que eles gostam tanto de usar referências bíblicas, vamos usá-la.

Eu disse no início que tudo começou há 22 anos, e sim, talvez tenha sido até antes, mas vamos partir de 2020, porque ao meu ver aquilo que houve naquele ano foi o estopim para minha conjuntura atual. Em 2020 começamos a presenciar uma pandemia de um vírus, vírus esse já conhecido, mas uma versão mutada do anterior oriunda do continente asiático, que acabou se espalhando pouco a pouco, e atingiu todas as partes do mundo.

Aqui no Brasil a situação foi muito séria, mais de um milhão de pessoas morreram em decorrência do vírus, mas esse número poderia ter sido evitado, se o presidente não tivesse minimizado toda a situação, se as pessoas tivessem parado de ir pra rua, para farrear, manifestar apoio ao presidente, se tivesse simplesmente atendido a campanha #fiqueemcasa, nada disso teria acontecido.

Depois de um grande número de mortes como esse em outros países, a economia colapsou, e em grande parte dos países que teve essa crise sanitária se instalou uma nova ditadura. No Brasil teve? Teve sim, infelizmente, e não foi por falta de aviso. O presidente vivia ameaçando as instituições, e após a descoberta de uma fraude eleitoral de 2018 o golpe foi dado.

Essa ditadura durou 10 anos, ironicamente tudo começou por causa de uma família, a palavra que a grande maioria dos apoiadores do governo gostava de pronunciar nos debates em família, nos bares, e nas ruas. Todos os movimentos de oposição resistiram e sobreviveram, hoje não estamos mais em uma ditadura, nós a vencemos com muita luta, perdemos amigos, pais, tios, primos, mas honramos suas memórias e ajudamos a reinstaurar a democracia.

Superamos o vírus? Controlamos a curva exponencial, aparece um caso ou outro ali, mas a imunidade de rebanho, que ocorre quando grande parte das pessoas pegam o vírus já deu conta do resto, o problema em si é que nesse meio tempo que as coisas se acalmaram por aqui, lá fora, o mundo entrou em colapso, as relações diplomáticas entre países se abalou e uma terceira guerra mundial começou.

- Hei - Ouço alguém me chamar. Saio do quintal onde estava fumando.

- Aqui fora! - Ouço novamente. Dou um passo pra trás e retorno para o lado de fora de casa.

Um homem da vizinhança me chama.

- Ficou sabendo? A dona Cleuza acabou de falecer.

- Sério? Mas o que aconteceu? - Pergunto surpreso.

- Não sei, não informaram a causa, mas encontraram ela sozinha em casa morta na cozinha.

Senti uma angústia com a informação, agradeci o aviso e entrei em casa.

- Amor! - Chamei.

- Oi Sérgio. - Ele respondeu.

Bom, vocês agora já tem mais informações sobre mim.

- O Osvaldo acabou de passar aqui na rua dizendo que a dona Cleuza faleceu.

A expressão de Matheus se modificou no exato momento em que dei a notícia, era um misto de tristeza com preocupação.

- Sérgio... - Disse ele.

- Oi.

- Não sei se estou enganado mas, a Cleuza não tem uns parentes alemães? Eles não estavam ai esses dias visitando ela? Parece que vieram pra cá pra fugir da guerra, depois que a China atacou o país deles.

Passei uns cinco minutos digerindo aquela informação.

- Sérgio?

- Oi amor.

- Está tudo bem?

- Estou pensando aqui, o que você quis dizer com isso que você falou sobre os parentes? Onde você quer chegar?

- Bom, pode ser imaginação minha mas... temo que...

Um filme passa na minha cabeça, foi como aquele dia há 22 anos, um brasileiro vindo da Itália com surto do vírus, veio para o Brasil.

- ... tudo esteja começando de novo. - Dissemos ao mesmo tempo.

A boca secou, e o silêncio era ensurdecedor.


Por: BETO OLIVEIRA

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