CONTO - XÍCARA DE CAFÉ

Entre uma xícara de café e outra, ele se encontrava perdido em seus pensamentos. Não sabia o que pensar, o que dizer dizer, o que sentir. Não sabia dizer o que estaria mais amargo nesse momento, o seu café? - que era como gostava, amargo e forte -, a sua vida em geral estava amarga? profissional? amorosa? Se perguntava se o amargo da vida o agradava, se existia algum tipo de apreço pelo baixo, pelo pesado, pelo triste.


Mas entre uma xícara e outra, a tensão entre seus dedos, sua respiração ofegante e seu inquieto coração resultante de uma crise de ansiedade, mostrava-lhe que tudo que ele sentia era passageiro, momentâneo, efêmero, se perguntava se todos os problemas da humanidade também poderiam ser efêmeros, percebeu que era, apesar das constantes repetições, já que os povos deste planeta não conhecem suas próprias histórias e é por isso mesmo que continuam a repetir os mesmos erros.

É por isso que mesmo durante uma crise de ansiedade, um café cai bem, não vai resolver, pode piorar ou não mas vai manter toda tensão e inconstância, pensava que o mesmo acontecia com a sociedade, parecia-lhe todos estavam na mesma situação, tendo um ataque de ansiedade, e ainda tomando altas doses de café.

 - Será que somos assim? - Pensou ele em voz alta.

De repente, um insight lhe sobreveio, nada está pressuposto, nada está pré determinado, porque nesse exato momento ele não planejava pensar em voz alta, mas assim saiu, quem sabe assim talvez ele encontre uma saída.

Saída para o sofrimento humano? Não, claro que não, isso seria humanamente impossível, mas o seu sofrimento particular momentâneo se resolveria com um simples copo de água e assim ele o fez.

A água lhe tirou o amargo da boca, e trouxe paz ao seu coração, uma certa lucidez, a resposta que sempre quis, de que nem tudo isso é tão pesado quanto parece.


BETO OLIVEIRA


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