A ESSÊNCIA ALFA - CAPÍTULO 10

 


Capítulo X – Paradoxo quântico temporal 

O dia seguinte ao recebimento do dom de Melissa trazia uma sensação ruim para Yan, algo que não conseguia explicar.  

Yan acordara receoso, sem coragem de levantar-se. Então ouviu sua mãe se aproximar de seu quarto para chamá-lo: 

Yan, acor... Pausou, surpresa por ele estar acordado. Já acordou? 

Sim, acordei. 

Ah, então se arrume logo e eu vou fazer o café. 

Está bem, mãe. 

Em pouco tempo ele banhou-se, vestiu uma camiseta preta, uma calça jeans preta e lisa acompanhadas de seu tênis branco, estava também com seus rotineiros cachos adornados. O mais estranho, porém, era que Carlene e Lucas não acordaram para ir à escola e ele teria de ir sozinho com Melissa. O relógio já batia às seis e meia da manhã, então conferiu seu material escolar e pulou porta afora se despedindo silenciosamente de sua mãe. 

Saindo de casa, ele chamou Melissa que desta vez aparentava estar abatida. Ele não sabia se devia perguntar o porquê, então deixou por conta do silêncio. 

Aos olhos de Yan, a escola tinha sido entediante, de sua turma, poucas pessoas foram.  

Em um piscar de olhos, já era o horário de ir embora. Tudo estava passando muito rápido. 

 

Ao anoitecer, Yan notou que já não via seus amigos de infância há algum tempo. Entediado com as redes sociais, parou de mexer no computador e saiu na rua para conversar com seus amigos e... Bem, não era o que ele esperava. Para sua surpresa, todos seus amigos estavam jogando conversa fora: Melissa, Leonardo, Larissa, Iuri, Rafaela e Danilo.  

Cumprimentou-os e entrou na conversa sobre o passado, lembrando-se dos momentos mais engraçados, memoráveis e embaraçosos. Recordaram das brincadeiras de infância, de todas as lágrimas e dos amigos que dali partiram. 

Nossa, que saudade da nossa infância. Disse Yan. 

Verdade, Yan, já parou para pensar quanto tempo faz? Larissa o interrogou com seus puros olhos castanhos. 

Na verdade, não, mas quando paramos para pensar dá vontade de ser criança de novo. 

Não é?! O que eu não daria para voltar no tempo agora... Empolgando-se, Danilo tocou em uma coisa que não saía da memória de Yan: viagem no tempo.  

De repente, passou pela sua cabeça toda sua negligência em relação às pesquisas de seu pai. Ironicamente, o filho de Antônio Lopes podia viajar no tempo. 

Neste momento, Yan notou que Melissa aparentava estar melhor e isso o fez sorrir aliviado. 

Nossa! Lembra de quando brincávamos de pega-pega, do poste àquela casa? Disse Rafaela, apontando ao fundo. Era muito legal todos juntos brincando. 

Leonardo, um garoto branco de cabelos castanhos, era um dos amigos que Yan não via há algum tempo, algo evidenciado por uma observação de seu amigo: 

Yan, você está diferente. Tem algo que queira contar para gente? 

Pensando nisso, o menino do tempo percebeu que realmente, naquela última semana já tinha mudado muito. Não era mais refém de suas crises de pânico e inseguranças, as enfrentava com muita garra. Antes de responder, Melissa se adiantou: 

Então, Léo, é que o Yan está apaixonado! 

Sério, Yan? 

Todos deram risada com o comentário de Mel. 

Não precisa divulgar, Melissa. – Constatou Yan. – Mas posso dizer que sim. 

Olha só, o que o tempo não faz com as pessoas?! – Disse Iuri. 

Gargalharam e lembraram-se de outros momentos, especificamente embaraçosos, como tombos, falas impensadas, e devidamente engraçadas, e muitos outros fatos guardados em suas memórias. Assim foi a noite do menino do tempo: uma viagem no tempo através de lembranças. 

Mas ele queria mais que isso, almejava uma viagem física para relembrar e, assim, ter uma nova percepção do passado. 

Quando o relógio apontava meia-noite, Yan começou a se arrumar silenciosamente. Ele vestiu sua gola V azul, seguida de uma bermuda jeans cinza e altamente elegante com o acompanhamento de seu tênis branco. Não era para tanto? É, ele não ligava para isso. Arrumou seus cachos que, visivelmente, já estavam grandes. Com a luva e a adaga em mãos, estava pronto. Chegara o momento.  

Usando o atrito da adaga com a luva, ele ordenou ao tempo: "Que venha ao meu redor o dia 19 de outubro de 2004". Por que essa data? Era o dia de seu aniversário. 

Obedecendo à ordem, o tempo voltou fazendo seu estardalhaço de sempre.  

A terra tremeu e Yan não soube distinguir mais o que era chão, teto, alto, baixo ou lado. O espaço se distorceu completamente e as cores se misturaram, exceto ele, é claro. 

Passados dez minutos, o cenário normalizou-se, as coisas tomaram forma e as cores voltaram à suas respectivas origens. E então, lá estava ele no dia proclamado. 

Yan estava na sua rua de sete anos antes. Ele situava-se perto da linha de trem quando ordenou ao tempo que parasse para que pudesse criar seu disfarce; trouxe em sua mochila uma blusa preta e óculos escuros, apropriou-se da blusa e dos óculos e soltou o tempo. 

O dia estava frio, mas lindamente ensolarado enquanto perambulava pela rua. Eram três da tarde, quando todos estranhavam sua presença por aquelas redondezas. Assim, sentou-se ao lado de uma árvore que se situava no lado oposto da linha de trem. 

Neste tempo, o seu eu mais novo estava completando dez anos, e ele assistia feliz os campeonatos de futebol que montava com seus amigos na rua, cada dupla sorteada era um time dava um nome a ele e tinha eliminatórias; eram oito times.  

Então, de repente, o seu eu mais novo, estranhando sua presença, teve a ousadia de falar com ele, enquanto esperava sua vez no jogo. Foi algo muito diferente e com uma voz inocente e bem agradável interrogou-o: 

Quem é você? 

Ao olhar em seus olhos castanhos, ouviu-se um trovão, embora o céu estivesse limpo. Isso se originava do paradoxo do tempo que acabara de criar. 

Sua respiração pesou. 

Yan lembrou-se de seus pressentimentos ruins nos últimos dias. A sensação que sentia era de extremo medo, ver a si próprio no passado não parecia ser uma boa ideia.  

Não sabia o que fazer, nem o que responder. Lidar com si mesmo era difícil, interagir com você mesmo de outro tempo era mais ainda. 

Mas o menino do tempo percebeu uma coisa estranha, uma lembrança veio em sua mente. Esse encontro já tinha acontecido em seu passado e graças a isso ele sabia exatamente o que responder àquela criança inocente.

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