Capítulo IX – O anjo, a carta e Melissa
Com pernas bambas e visão turva, Yan abriu os olhos, ficou surpreso ao ver Melissa assentada na cadeira ao lado de sua cama.
– Melissa?! – Puxou os lençóis – O que está fazendo aqui? Quem me trouxe pra casa?
– Calma, Yan. Você desmaiou e eu trouxe você pra casa. Eu, Lucas e o Fernando.
– Sério?
– Sim, e queria te perguntar... desde quando você e o Lucas viraram amigos do Fernando?
– Na verdade, começamos a conversar ontem... – Parou Yan – Espera um momento... ele também disse que era um portador.
– Portador? – Perguntou Melissa.
– Sim, ele disse que possui o dom da sabedoria e por isso atacou o professor dizendo que era inimigo nosso. – Explicou Yan.
– Isso é muito estranho, estou ficando assustada, Yan. – Disse Mel.
– Aliás, o que a escola está falando sobre o que aconteceu? Vamos ser expulsos? – Perguntou Yan.
Melissa abaixou a cabeça preocupada. Ao levantar-se disse:
– Então, Yan, isso que eu queria comentar... é que... Ninguém está falando sobre... Porque... É como se nunca tivesse acontecido isso... só eu, você e nossos amigos mais próximos lembramos disso.
– Quê?! Como assim?
– Eu também não consigo entender...
Melissa foi interrompida por um barulho, era alguém batendo na porta do quarto de Yan.
Yan olhou para Melissa e franziu a testa.
– Entra... – Murmurou Yan.
Era Fernando, o sábio.
– Oi, Yan, com licença. Como você está? – Perguntou, atenciosamente, Fernando.
– Estou bem, sente-se aqui, vamos conversar sobre o que aconteceu...
Fernando foi atualizado da conversa que os dois estavam tendo, suas inquietações e dúvidas, Yan lhe contou sobre tudo que vinha acontecendo, as viagens e tudo mais.
Da boca de Fernando sobressaiu algo surpreendente:
– Na verdade, Yan, tudo isso faz parte de algo maior. O pouco que sei é que, durante toda a história do Brasil, sempre houve portadores de dons em algum determinado tempo, mas tudo isso é abafado.
Espantados e boquiabertos ficaram o menino do tempo e Melissa.
– Só existem portadores no Brasil?
– Isso eu não saberia te dizer, mas acho pouco provável que só tenhamos isto aqui.
– Mas como você sabe de tudo isso? – Perguntou Melissa.
– Não sei exatamente, Yan me contou a história do mosteiro e tudo mais, então tudo surgiu na minha cabeça. Geralmente eu não erro, mas equívocos também acontecem.
Yan sorriu tenso.
– Espero que isso não seja verdade. – Disse ele.
Reinou o silêncio. Passado algum tempo, Melissa pensou em questionar seu melhor amigo sobre o incidente e o fez.
– Yan, como conseguiu? Salvar a escola daquele jeito? – Perguntou Melissa
– De que jeito? Como assim? – Interrogou confuso.
– Você foi muito rápido com os explosivos...
Yan lembrou que parara o tempo naquele momento, mas para os outros era uma coisa imperceptível.
Curioso, Fernando também estava atento a Yan.
O menino do tempo explicou tudo o que aconteceu, como parou o tempo e tudo mais.
– Eu vi você com a luva e a adaga na mão, elas estão aqui? – Perguntou Fernando.
– Sim. – Respondeu Yan.
E Yan mostrou para os dois o artefato. Enquanto isso, Melissa aparentava não estar bem, estava ofegante.
– O que foi, Melissa? Está tudo bem? – Perguntou Fernando.
– Mel? Mel? – Interrogou Yan.
– Yan... – A visão de Melissa se apagava, rapidamente ela desmaiou.
Numa grande preocupação, gritando sucessivamente seu nome, algo aconteceu. Um pequeno raio desceu investindo contra o peito de Melissa. Então ela acordou com os olhos mudados, seus olhos se tornaram azuis, um azul tão profundo que lembrava o bater de ondas de um maravilhoso mar.
– Não me diga que... – Disse Yan impressionado.
– O que está acontecendo? – Indagou ela, sobressaltada.
Fernando Castellani respondeu sua pergunta.
– Você recebeu um dom...
– Quê? Mas não era pra ser uma gota ou algo assim? – Perguntou Yan.
– Bom, na verdade, a essência pode vir de diversas formas.
Cambaleando para frente e pondo-se em pé, Melissa não compreendia a resposta de Fernando e quis tirar a limpo.
– Olha, não estou entendendo nada. Qual é minha missão?
Fernando tirou de seu bolso um pequeno espelho e colocou em vista de Melissa.
– Meus olhos? Meus olhos mudaram de cor, são azuis! Que lindo! – Exclamou – Mas o que significa isso?
– Sua missão, Melissa, é reinar sobre as águas.
"Incrível", pensou Yan.
– Sério? Eu sou uma controladora das águas? Tipo Poseidon?
– É isso mesmo. – Fernando gargalhou com a analogia.
– Fernando! Precisamos ir, onde você... – Chegou uma garota e o seu chamado trouxe Yan de volta à realidade. Seus olhos encontraram os de Yan. – Onde você estava?
– Thays? Ah, Yan e Melissa, essa é minha irmã, Thays.
– Oi – Disse Yan, tímido – Ao que ela respondeu da mesma forma, já Melissa disse um pequenino "Olá".
Thays vestia um lindo vestido amarelo acompanhado de tamanco preto e estava maquiada, tudo isso por causa da ida ao shopping com seu irmão. Pois é, ela estava deslumbrante.
– Então, Yan, fique bem. Preciso ir ao shopping com a minha irmã! – Yan e Thays deram um tímido "tchau". Enquanto Melissa sentou-se enciumada, a linda garota deu uma olhada por sobre o ombro visando Yan.
Os dois foram embora e, enquanto Yan organizava sua cama, pensou na possibilidade de testar a habilidade de Melissa. Então, sem explicações, disse a ela:
– Venha comigo.
– Hã? Para onde?
Yan correu para o banheiro de seu quarto e abriu a torneira da pia.
– Faça algum movimento com os olhos ou com as mãos, por favor!
Após ditas tais palavras, ela compreendeu e com os olhos fixos na água fez um movimento com o dedo indicador para cima, fazendo a água contrariar as leis da gravidade. Ao fazer a água correr para cima, o impossível estava acontecendo, ela realmente se tornou a rainha das águas. Fazendo um movimento para baixo, descendo seu dedo indicador, a água voltou para seu fluxo normal. Yan fechou a torneira e, após lhe parabenizar, abraçou-lhe.
Ao voltarem para o quarto, algo inacreditável aconteceu. O bater de asas cintilantes iluminou seu quarto, deixando a atmosfera mágica. Era um anjo que trazia consigo uma folha escrita por dentro e por fora com um embrulho dourado. O mensageiro falou:
– Olá, eu sou um Anjo Guardião. Protejo os portadores do tempo, chamo-me Maurício. – Disse o anjo e jogou a carta nas mãos de Yan.
Sua voz era algo surpreendente, aparentemente trazia em sua voz sons familiares. Ela trazia lembranças, do calor da natureza e do Paraíso. Toda a vida destes dois escolhidos passava em suas mentes como um filme.
– Esta carta que está em suas mãos... – Apontou para o menino do tempo. – Só deverá ser aberta quando a tempestade acalmar, quando tudo estiver resolvido. Mesmo que tente, você não conseguirá abri-la antes da hora.
– E quando será isso? – Perguntou Yan.
– Em breve, Yan, em breve... – Ecoou a voz do anjo.
Após a palavra o anjo desapareceu ofuscante, deixando para trás a carta dourada e uma pena, uma pena de suas lindas asas.
– Que mágico! – Exclamou Melissa.
– Pois é! – Disse Yan sem fôlego.
Quando ele olhou o relógio, marcavam dez horas da noite, então sua mãe gritou:
– Yan, a mãe da Mel a está chamando!
Ao ouvir, Melissa levantou-se e deu um beijo no rosto de Yan, se despedindo.
Mel se fora e o menino do tempo precisava dormir. Ao colocar-se na cama, puxou os cobertores e arrumou tudo a seu bel-prazer, adormecendo rapidamente.
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