A ESSÊNCIA ALFA - CAPÍTULO 04

 

Capítulo IV Encaminhamentos e inquietações 

 

Lucas foi para casa. Logo em seguida, Anderson retornou ainda um pouco impressionado com a situação, pois tinha visto a morte. No entanto, mesmo que seu filho não o conseguisse trazer de volta, alguém o faria. 

E esse alguém apareceu dando-lhe um susto. O misterioso homem sentou-se sobre as raízes de uma árvore e disse: 

Você disse coisas demais, mas você fez bem! 

Não sei se consigo continuar com isso! Respondeu Anderson. 

Você deve, aliás, temos um trato e você sabe o que tem que fazer. 

Nunca matei ninguém. Disse Anderson. 

Isso não será problema. Nós não temos muito tempo, literalmente. 

 

Enquanto isso, Yan sonhava de novo com a mesma coisa. Parecia mais uma continuação do sonho anterior. 

Parece assustado. Disse a voz. 

Yan não conseguia ver quem estava falando. 

Preciso que você faça algumas coisas pra mim, porém, como não posso te obrigar, farei você perceber a necessidade e a seriedade disso. Enquanto isso, acorde! 

Yan ouviu novamente: 

Acorde! Yan! 

Yan abriu os olhos com dificuldade. Sua mãe o chamava. 

Já são 6h10. 

O menino do tempo levantou-se assustado, quase esqueceu que tinha aula.  

Ele se arrumou rapidamente, colocou uma camiseta vermelha e uma bermuda jeans, esperou sua irmã Carlene e seu amigo Lucas, juntos saíram de casa. 

 O tempo estava quente, apesar do horário. Lucas e Carlene encontraram Fábia e foram na frente, enquanto Yan esperava Melissa no portão de sua casa. 

Bom dia! Disse Yan quando ela veio em sua direção. 

Bom dia, Yan. Escuta, queria falar uma coisa. Respondeu ela, fechando o portão. 

Pode falar. Disse Yan. 

Desculpe-me por antes, sei que você gosta da Alice, não devia ter acontecido aquilo. 

Isso está longe de ser um problema, pensou Yan. 

Olha, Melissa, não importa. Não quero correr atrás de ninguém, e dificilmente vou querer algo sério com alguém que não dá a mínima pra mim. 

Não estou dizendo para se casar com ela. – Sorriu Melissa É que a Alice pretende dar uma festa nesse fim de semana, é aniversário dela e os pais dela ainda não voltaram de viagem. E ela chamou a gente. 

É sério? Perguntou Yan impressionado. 

Sim, vamos? 

Não sei. 

Vamos, vai ser divertido!  

Yan sorriu sem jeito. 

Bom, ainda é terça-feira, posso pensar. 

Com gritos exagerados, Melissa comemorou o que acabara de ouvir. 

Então, mudando de assunto, o que você queria me contar antes? 

E ele contou a ela sobre os sonhos, mas teve receio em contar sobre a viagem no tempo, quem acreditaria nele? 

Ah, então era isso. Na verdade, não estou muito surpresa. Disse ela. 

Sério? Perguntou Yan. 

Sim, porque tenho alguns sonhos assim também. 

Yan perdeu o fôlego com o que acabou de ouvir. 

Eu ia te contar isso também ontem, mas fomos procurar o Lucas. 

É mesmo? Mas isso não te incomoda? Perguntou Yan. 

Não, por que incomodaria? E já tirei algumas conclusões sobre isso. 

E quais são? 

Pelo que você me falou, parece que a pessoa que falou com você é a mesma que fala comigo. 

Não me diga que você identificou quem é. 

Na verdade, é uma suposição. Disse ela. 

Os dois já estavam chegando na escola, mas o assunto não terminava. 

E quem você supõe que seja? 

Bom, vai de cada um... Hesitou Melissa acho que é Deus. 

O coração de Yan palpitou com a revelação.  

Lá no fundo ele também desconfiava disso, afinal, que outra explicação teria isso? O poder sobre o tempo, aquela noite estranha... 

Deus?! Exclamou Yan sobressaltado. 

Como disse, vai de cada um. 

Olha, não sei não. 

Você não acredita em Deus? Perguntou Melissa. 

Sim, acredito, mas Deus costuma falar assim? 

Às vezes, sim. Bom, na minha concepção. 

Melissa sorria, mas não queria deixá-lo preocupado. 

Mas relaxa, deixa as coisas rolarem. 

 Yan assentiu e os dois seguiram para a sala de aula.  

Ao chegarem, perceberam que o professor já havia chegado e, para poupar o trabalho, ele já tinha escrito no quadro: 

Tomás Silva Belmonte 

História 

Vamos nos organizando aí! Disse o professor, esperando os alunos se acomodarem em seus assentos. 

Após passados mais ou menos cinco minutos, todos estavam prontos para ouvi-lo. 

Bom, pessoal, primeira semana de aula, nada mais justo que falar de algo mais próximo da gente: a nossa cidade! Alguém tem algo a dizer antes de começarmos? 

Tomás era negro, com olhos claros. Enquanto esperava alguma resposta, acariciou seu cabelo blackpower. Mas, como todos continuaram em silêncio, ele colocou as mãos nos bolsos de sua calça e, ainda um pouco desconfortável, continuou: 

Olha, as minhas aulas são bem dinâmicas, portanto, gostaria da colaboração de vocês. Quando tiverem algum comentário ou dúvida, podem falar. 

Ao término de sua fala, Alice ergueu a mão: 

Qual a origem do nome Guatacape? 

Boa pergunta... Desculpe, qual o seu nome? 

Alice. Respondeu ela. 

Lindo nome! Alice agradeceu sussurrando e ele continuou Então, o nome é uma junção de duas coisas Disse isso escrevendo no quadro: Gua-Tacape. 

O gua vem da tribo indígena guaru que existia aqui na região, que, inclusive, formou a cidade quase vizinha, Guarulhos. Acontece que alguns desses índios também vieram para cá, povoando a região. Já o tacape era uma espécie de espada, artefato que os índios usavam para guerrear com outras tribos. Além disso, essa região foi o foco de muitos conflitos na época colonial! 

Nossa, mas quais eram esses conflitos? Perguntou Melissa. 

O professor sorriu, empolgado com a participação da turma. 

Quando os jesuítas vieram para o Brasil, eles organizaram as tribos indígenas, ensinando costumes europeus, fazendo trocas materiais, o chamado escambo. Como sabem, os índios eram catequizados e não eram escravizados por serem considerados pessoas gentis, não civilizadas, é pejorativo mesmo, porém, naquela época havia os bandeirantes que buscavam destruir as tribos e buscar metais preciosos, já que também, os jesuítas reuniam bastante objetos e informações que só eles tinham posse. 

Todos estavam atônitos, o silêncio era ensurdecedor. 

Então quer dizer que os jesuítas protegiam os índios? Perguntou Yan. 

Sim, com o objetivo de universalizar o cristianismo. Respondeu Tomás. 

 

As aulas se seguiram normalmente e Yan esteve bem o tempo todo e isso o deixou aliviado, mas curioso. Quando e para onde iria se tivesse uma crise de pânico? 

Controlar as viagens deve ser demais, pensava ele. 

Quando terminou todas as aulas, Alice se aproximou de Yan e perguntou se ele iria à sua festa. 

Quando vai ser mesmo? Perguntou ele, mesmo já sabendo, pois queria interagir com ela. 

Sexta-feira, às 19h. Te vejo lá! 

Yan assentiu e Melissa e outros amigos o viram e pegaram o caminho de volta para casa. 

Eu vi você falando com a Alice, o que ela queria? Perguntou Melissa durante o caminho. 

Ah, perguntou se eu ia para a festa. 

E você decidiu se vai? 

Agora vou, sim. Sorriu ao dizer e sua amiga o acompanhou. 

Mal sabia ele que essa festa seria muito mais do que parecia. 

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