A ESSÊNCIA ALFA - CAPÍTULO 05

 


Capítulo V O embrião de uma geração 

 

11 de fevereiro de 2011 

Guatacape, São Paulo, Brasil 

O dia amanheceu frio e nublado, mas era dia de aula.  

Com muita dificuldade para abrir os olhos, Yan levantou-se da cama e abriu as cortinas. 

Está nublado e frio! Que maravilha! Disse Yan feliz com o clima, porque era fevereiro e normalmente estaria muito quente. 

O menino do tempo não parava de pensar na festa que aconteceria à noite. Normalmente ele não se sentia bem em festas, mas pressentia que precisava ir nessa. 

Na noite passada, ele não teve sonhos estranhos, mas o que Melissa dissera dias atrás ainda o perturbava; será que Deus realmente fazia parte disso? 

Se isso era tão importante, o que ainda estava por vir? Yan se questionava a cada passo que dava no quarto; ao trocar de roupa, ao escovar os dentes e ao tomar café. Depois daquele primeiro dia de aula, na segunda-feira, não sofreu mais crises de pânico. Será que, por algum motivo, tinha perdido o poder? 

Depois de tanto pensar, Yan estava pronto, então respirou fundo e saiu de casa.  

Mas, ao bater a porta de sua casa, ouviu gritos de sua irmã e Lucas. 

Yan abriu a porta. 

Não ia esperar a gente? Perguntou Carlene. 

Me desculpe, acordei muito aéreo hoje. Respondeu ele. 

Vou deixar essa passar. Disse Lucas de forma bem humorada.  

Você vai para festa? Perguntou Yan a Lucas. 

Claro! Respondeu ele Você vai, não é? 

Sim. 

Carlene franziu a testa e balançou seus cabelos castanhos. 

Não vai perguntar se vou? Perguntou ela. 

Você vai? Perguntou Yan, aparentemente, incomodado com a ideia de sua irmã ir à festa. 

Lucas riu com a atitude de seu amigo. 

Não me diga que está com ciúme da sua irmã. Disse Lucas olhando para Carlene. 

Yan não respondeu. 

Para de ser chato, cara. Olha, quero ver você pegando geral na festa, hein! Disse Lucas. 

Sabe que eu não sou assim Respondeu Yan, finalmente, abrindo um sorriso. 

Nesse momento, eles esperavam Melissa em seu portão. 

Eu sei, mas as pessoas mudam, amigo! 

Yan pensava na atitude estranha de Lucas, dias atrás. Sentia medo de que algo acontecesse de ruim. Rompendo suas reflexões, surgiu Melissa repleta de animação. 

Olá! Bom dia! 

Somente Lucas e Carlene responderam com a mesma animação Fábia que chegava. 

Oi, gente! Disse ela. 

Fábia era uma menina de cabelos pretos ondulados, um ano mais nova que Lucas, Yan e Melissa, Carlene e ela eram da mesma sala.  

Fábia vestia um jeans e um sobretudo que cobria quase o corpo todo, já Carlene, que tinha cabelos longos e castanhos claros, usava uma blusa comum de touca vermelha, acompanhada de uma calça jeans preta. 

Nossa, Yan! Cadê a animação? Exclamou Melissa. 

Yan estava inquieto emocionalmente, usava uma jaqueta cinza e calça de moletom preta, vestimenta que refletia sua emoção. Porém continuava elegante, com seus cachos à vista. 

Deixe-o, Começou Lucas está pensando em como vai ser beijar a Alice hoje. 

Todos gargalharam, enquanto Fábia, por fora do assunto, cochichava com Carlene. 

Gente, dá um tempo. Respondeu Yan. 

É sério, o que está acontecendo? Perguntou Mel novamente. 

À noite eu conto tudo. 

As brincadeiras cessaram, todos percebendo sua seriedade. Escola Estadual Pedro Valente ficava no lado oposto do parque, na esquina com outra rua, assim, a caminhada levou cerca de 15 minutos. 

Durante o caminho, eles conversavam sobre diversas coisas, mas o assunto principal ainda era a festa. Chegando à escola, todos se encaminharam para as salas de aula.  

Por fim, como os alunos só tiveram duas aulas, eles logo foram dispensados. Perfeito para um dia que terminaria em festa, pensavam. Mas Yan continuava preocupado.  

Chegando em casa almoçou e deu um cochilo. 

 

A noite logo chegou, eram seis horas da tarde e Yan e Lucas esperavam Carlene se preparar para a festa. 

Como se sente? Perguntou Lucas. 

Ué, estou bem, por que a pergunta? 

Não está tendo mais crises de pânico? 

Um filme passou na cabeça de Yan com todos os acontecimentos recentes. 

Por incrível que pareça, não. 

Lucas sorriu aliviado. Essa era a primeira vez em anos que os dois conversavam assim. De repente, se ouviu ao fundo: "Vamos!". Os dois, sentados no sofá, olharam para trás e observaram Carlene. 

Ela estava vestida com uma blusinha vermelha e um colete preto, calça jeans preta e um salto vermelho. Seus cabelos castanhos estavam ondulados e deixavam à vista os brincos. 

Nossa! Estou me sentindo horrível agora. Brincou Lucas. 

Para de ser besta. Disse ela. Vamos? 

É, Lucas, vamos! 

E os três saíram de casa. 

A casa de Alice ficava a duas ruas da escola que eles frequentavam.  

Os três logo encontraram Melissa e Fábia e, juntos, caminharam até a festa. 

A quantidade de pessoas na festa surpreendeu Yan, tinha no mínimo cem pessoas. Ao chegarem, logo se espalharam pela casa. 

Em pouco tempo, Alice viu Yan e de longe seus olhos brilharam. 

"Que linda", pensou Yan. 

O menino do tempo foi seguindo em direção a ela, mas, de repente, alguém entrou em sua frente. Um homem visivelmente bêbado gritava algo, mas não era muito compreensível. 

Filos...de...topan... 

Yan franziu a sobrancelha e olhou em direção à Alice. Os dois sorriram sem graça, tentando passar pelas brechas entre as pessoas. 

Quando, finalmente, conseguiram chegar um ao outro, ela soltou sorridente: 

Que bom que você veio! 

Parabéns! E Yan lhe deu um abraço. 

Uma coisa que Yan achou estranho foi que ela o apertou. As trocas de olhares e os gestos estavam sendo correspondidos! 

Vou pegar algo pra você beber, tá? 

Tudo bem, obrigado. Respondeu Yan. 

Alice se afastou e Lucas veio de repente, já dançando e com uma bebida na mão. 

Eu vi, hein! Brincou ele. 

A música estava muito alta e a comunicação ficava um pouco difícil, mas Yan conseguiu entender com clareza o que seu amigo dizia. 

Só dei um abraço nela. Respondeu Yan. 

Mas presta atenção em como ela te olha. Enfim, é com você! Boa sorte aí, amigão! 

Ele o insultou e Lucas deu risada, indo para fora da casa, onde estavam Melissa, Carlene e Fábia, as três olharam para trás e vendo Yan deram risada. Ao ver isso, ele deu um sorriso e virou o rosto, foi quando viu que quem vinha lá na frente era Alice. 

Ela voltou e lhe entregou um refrigerante. Enquanto a música tocava e todos dançavam, os dois sentaram-se no sofá da sala, onde tinha mais gente. Yan não conseguia falar muito e era nítido que Alice estava incomodada, foi quando ela disse: 

Vamos ali comigo. 

Onde? Perguntou tenso. 

Na cozinha. 

Alice pegou em sua mão e o puxou, ao chegarem na cozinha, ela disse: 

Posso te fazer uma pergunta? Perguntou ela mais próxima que o normal, os dois estavam perto da geladeira, Yan estava encostado na parede enquanto ela o encarava. 

Pode. Respondeu ele. 

Você já beijou alguém? 

Yan sorriu sem graça, ele achava que era demais para ser verdade, mas agora estava muito claro. 

Já sim. 

Ela assentiu rapidamente dando risada e olhou para o lado: E por que você não me beija logo? 

Yan a puxou, lentamente, segurando sua cintura. Alice repousou seus braços em seus ombros e ele a beijou. 

Após o beijo, os dois sorriram. 

Acho melhor voltarmos Disse ela. 

Eu também. Respondeu ele. 

Mas sem pressa, antes eu quero mais um. Sussurrou Alice. 

Mesmo antes de terminarem de se beijar, alguém chegou: 

Alice! 

Os dois tomam um susto. Era uma amiga de Alice que Yan não conhecia. 

Oi Respondeu ela e o soltou rapidamente. 

Yan gelou, virou o rosto e deu um sorriso sem graça. A amiga dela segurou uma gargalhada. 

Eu ia perguntar se você tem gelo aí! 

Ah, tenho, pega aí na geladeira. 

Alice continuava de frente para Yan, sorrindo e mexendo em seus cachos frequentemente. 

Achou? 

Achei, sim. Respondeu sua amiga e se retirou. 

Yan ficou um pouco sério. Estava começando a sentir alguns sintomas da crise de pânico, mas pensava que ela não precisava saber. 

Você está bem? Perguntou ela. 

Respondeu ele acenando positivamente com a cabeça. 

Vem cá Disse Yan e os dois se beijaram novamente. 

Após o beijo, Alice o olhou e perguntou de novo se ele estava bem, ele respondeu que sim. O que ele achava estranho era ter uma crise naquele momento, depois de dias sem ter nenhuma. Seu medo, no momento, era ter alguma viagem no tempo, por isso, tentava se concentrar no agora. 

Não sei se você sabe, mas já estava esperando por isso há algum tempo. 

Alice sorriu. 

Eu sei, Melissa me contou, contou que você gosta de mim. 

Nossa, ela acabou com o mistério! Disse de bom humor. 

Acabou nada. Respondeu ela. Vamos pra festa? 

Vamos. E os dois se soltaram, Yan pegou uma bebida e voltou à sala. 

Os dois foram para lados opostos, Alice foi encontrar a menina que havia entrado na cozinha e o menino do tempo procurava por Lucas. 

Foi quando ele ouviu uma gritaria, Lucas estava brigando com alguém. 

Yan saiu correndo para separar. 

Lucas! Para! 

O seu amigo detinha uma força muito grande, a briga era visivelmente desigual e todos ficaram assustados com essa situação. Com um soco, Lucas derrubou o outro garoto, que não conseguia se levantar, quando Lucas ia emendar uns chutes, Yan o puxou tremendo. 

Lucas, olha pra mim! Para! 

Quando ele voltou a si, franziu a sobrancelha e percebeu a situação. Lucas saiu correndo. 

Melissa apareceu, não chegara a tempo. 

Carlene, vai atrás do Lucas, vou falar com seu irmão. Gritou ela. 

Melissa chegou, percebendo que seu melhor amigo não estava bem, perguntou: 

Você está bem? 

Não, estou tendo uma crise de pânico. 

Quer sentar-se um pouco? 

Não, vou ao banheiro e já volto. Respondeu ele. 

Melissa estranhou sua atitude, mas assentiu. 

Yan, em seus 16 anos, nunca sentiu nada parecido, então correu para o banheiro e trancou a porta. A crise era muito mais forte que antes, o relógio de sangue se formou novamente, sua mão sangrava. 

Os ponteiros do relógio de sangue que se formava em sua mão giravam para trás rapidamente. Tudo começou a tremer de novo e, de repente, ele não conseguia mais distinguir o que via, as cores se misturavam até ficar tudo negro. A tontura começou a vir com muita força, fazendo com que Yan desmaiasse. 

De repente, Yan acordou meio atordoado, observando o local em que estava e percebendo que nunca tinha visto nada parecido na vida, ele via árvores e mais árvores. Correndo em direção a um lugar, encontrou um mosteiro e viu uma oca indígena ao lado. Um dos índios, vendo-o, sussurrou: 

Filho de Tupã! Filho de Tupã! Enquanto repetia, ele apontava para Yan, esperando que mais algum índio o visse. 

Yan correu na direção oposta, para onde viera, mas, de repente, sua visão escureceu e em um piscar de olhos ele estava de volta ao banheiro da casa de Alice. 

O menino do tempo saiu do banheiro correndo para contar tudo que viu à Melissa, procurou e procurou, mas não a encontrou. Yan não sabia, mas havia se passado 30 minutos desde que viajou no tempo. Quando ele saiu lá fora, na calçada viu uma coisa, Melissa e Lucas estavam se beijando. No momento em que ele ia dar meia volta, os dois o chamaram constrangidos. 

Melissa correu até ele. 

Sente-se melhor? 

Estou sim, pelo jeito você está muito bem, né. Yan deu risada. 

Ela sorriu sem graça, algo que ele considerou estranho. Yan começou a pensar na relação dos dois, e tudo se clareava. 

Bom, aconteceu uma coisa, mas depois eu conto. Disse Yan retirando-se do local rapidamente. 

Yan! Gritou ela. 

Porém ele não voltou. 

O fato mais surpreendente estava para acontecer. Já calmo, Yan foi para cozinha tomar um copo de água e, em poucos segundos, ele se viu no mesmo lugar de antes, em frente ao mosteiro que havia visto anteriormente. 

Quem é você? 

Ele não havia visto, mas surgiu um padre, com um sotaque muito diferente, ele falava português, mas não era nada do que tinha visto antes. 

Após a pergunta, Yan voltou a si e estava novamente na festa.


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