Capítulo VI – Momentos de partilha e realizações
A festa ainda acontecia com a mesma intensidade, mas Yan já não acompanhava a energia que todos apresentavam, pois, as viagens realmente mexeram com ele. O que ele mais queria no momento era poder conversar com alguém.
Foi quando ele começou a sair da cozinha e viu Alice, ele se assustou. Aos olhos de Yan, ela estava visivelmente preocupada com ele, o que na verdade era estranho. O fato de Melissa ter contado a ela sobre seu afeto deveria ter despertado algo.
– Nossa! Você não está legal, quer conversar? – Perguntou ela.
Alice estava dizendo o que ele mais queria ouvir, mas não pretendia contar sobre as viagens, porém falar sobre sua síndrome do pânico não era de fato uma coisa ruim.
– Bom, se não for te incomodar.
– Claro que não, aliás, se você não quiser falar agora, podemos trocar telefones e conversamos.
Yan sorriu.
– Não vejo nenhum problema em conversar agora e trocarmos telefone. – Brincou ele.
Alice também sorriu.
– Tudo bem, vamos para um lugar mais silencioso, aqui está muito barulhento.
Yan ainda queria ver Melissa e Lucas, porém ele sabia que os dois precisavam também de um momento juntos.
– E aonde iremos, então? – Perguntou ele.
– Tem a parte de cima, lá tem uma varanda e é um lugar tranquilo.
– Ah, perfeito.
Yan pegou sua mão, então entrelaçaram os dedos e subiram as escadas.
Chegando lá, havia dois quartos e na parte da frente uma varanda, eles avistaram um casal que Yan não reconheceu em meio a escuridão. Então foram para o outro lado da varanda.
Os dois sentaram-se e Yan ainda um pouco tenso olhava para o céu, enquanto Alice acariciava sua mão. Ele começou a contar sobre sua síndrome do pânico, como tudo começou e como aconteciam as crises, revelou também que durante o tempo em que estiveram na cozinha ele havia tido crises de ansiedade.
Uma coisa que deixou Yan feliz foi o fato de ela ter sido bastante atenciosa com o que contava.
– Nossa! Não sabia que você passava por tanta coisa, você é forte! Não sei se eu aguentaria tanto.
– Fico feliz em ouvir isso, poucos entendem, consideram como frescura ou fraqueza.
Alice sorriu amavelmente.
– Eu sei que não é nada disso, todos temos crises de ansiedade. É claro que no seu caso é um pouco diferente, mas ainda assim te entendo. – Respondeu ela, acariciando os cabelos dele.
Os dois ainda ficaram conversando por pelo menos uma hora, até subir Lucas e Melissa.
– Yan – Chamou Lucas.
Os dois deram um passo atrás e, no susto, Yan e Alice soltaram as mãos. O menino do tempo olhou para trás e respondeu:
– Oi!
Constrangido, Lucas não conseguiu falar.
– Então, vamos embora? Já é 1h30 da manhã! – Disse Melissa.
Surpreso com o horário, mas ainda querendo aproveitar o momento, Yan disse:
– Ah, tudo bem, vão indo que logo desço.
Os dois assentiram e atenderam ao seu pedido.
Logo depois de Lucas e Melissa descerem os dois começaram a gargalhar:
– Você viu a cara que a Melissa fez? – Disse Alice.
– Sim! E o Lucas, então? – Respondeu Yan.
– Parece que ninguém esperava acontecer o que aconteceu aqui.
Alice sorriu e se aproximou.
– Exceto a gente, não é?
Yan assentiu e os dois se beijaram novamente.
O menino do tempo não esperava que isso acontecesse tão naturalmente. Antes de ir para a festa, tinha medo de não ser ele mesmo, de não expressar sua essência.
– Acho que você tem que ir, né? – Disse Alice um pouco frustrada.
– Infelizmente, sim. – Yan lhe deu um selinho. – Mas a gente vai se falando.
Os dois se abraçaram e Yan desceu de mãos dadas com ela. Chegando lá embaixo perto da cozinha, ela retribuiu o selinho e Yan foi até a porta, onde Melissa e Lucas já estavam esperando.
Ao ver Yan chegando, Lucas já abriu um sorriso, que o deixou um pouco sem graça.
– Aí sim, hein! Eu falei muitas vezes, mas não esperava que acontecesse dessa forma.
– Nem eu. – Respondeu Yan sorrindo.
– Mas, meus queridos, quem juntou os dois? Eu, né. – Disse Melissa debochando.
Lucas e Yan sorriram e responderam ao mesmo tempo ironicamente.
– Aham, claro.
Melissa revirou os olhos e, pegando a mão de Lucas, disse:
– Vamos?
– Espera, cadê a Carlene? – Perguntou Yan.
– Ah, ela pediu pra te avisar que foi dormir na casa da Fábia.
Yan ficou um pouco incomodado, mas nem ele mesmo sabia o porquê disso.
– Ah, tudo bem. Então vamos.
E os três seguiram, enquanto Lucas e Melissa estavam conversando empolgados, o menino do tempo não parava de pensar no que tinha acontecido, qual seria o significado de tudo isso? Ele não podia responder isso, mas sabia que tudo fazia parte de algo maior e sentia que não se restringia só a ele.
Os dois perceberam o silêncio de Yan e o questionaram:
– Está tudo bem? – Perguntou Melissa primeiro, lembrando que ele havia dito anteriormente que estava com crise.
– Cara, o que foi? – Indagou Lucas.
– Bom, para responder isso precisamos sentar e conversar direito. – Respondeu ele.
– Não pode ser em pé? – Brincou Lucas.
– Não. – Respondeu sorrindo. – Mas sério, chegando lá em frente de casa eu conto tudo.
Lucas fechou o semblante e disse que também queria contar tudo e tentar explicar de alguma forma o que aconteceu na festa, já Melissa queria entender os dois e o porquê de parecerem igualmente tão maus.
Ela ainda pensava em tudo que Lucas tinha contado, algo que Yan ainda nem sabia, mas que provavelmente seria chocante para ele. Será que o que Yan tinha para dizer também estava no mesmo patamar? Será que também era tão preocupante? Mas uma coisa a alegrava, os dois pareciam mais próximos do que nunca.
Passados mais ou menos 15 minutos, eles chegaram em frente às suas casas. Sentados na calçada da casa de Melissa, Lucas começou a contar sua história.
– Bom, desde o primeiro dia de aula… vem acontecendo coisas...coisas estranhas.
– Que tipo de coisas? – Perguntou Yan.
– Bom, já vou adiantando, eu sei o que aconteceu com você naquele primeiro dia de aula, na aula da Iliana.
Yan arregalou os olhos impressionado.
– Como?
– Vou explicar.
E Lucas contou tudo que o afligia, por dentro de tal história, Melissa só ouvia, enquanto Yan perguntava.
– Como assim? Seu pai? Você encontrou seu pai?
– Sim, mas ele está estranho, não sei se aquele ainda é o meu pai.
– Realmente, e essa carta dizendo que você não devia falar comigo é estranha. Mas você entendeu o que sobre essas essências negativas? – Perguntou Yan.
– Não sei, só sei que quando estou sob influência delas eu saio de mim, não sou eu que estou mais agindo, parece que algo controla o meu corpo, apesar de ver tudo o que meu corpo faz. – Pausou Lucas. –... Tipo… na festa… eu… eu não queria bater naquele menino, algo tomou conta do meu corpo.
O menino do tempo estava chocado, boquiaberto, não sabia o que responder, enquanto Melissa passava a mão em seus cabelos e franzia a sobrancelha.
– O meu medo é um dia fazer uma besteira muito grande por conta disso, como matar alguém.
– Não, isso não vai acontecer – Disse Melissa – Não é, Yan?
– Sim, vamos ficar atentos. – Respondeu ele.
Um silêncio se sobressaiu após essa cena, logo em seguida Lucas perguntou:
– E você, Yan? Conte tudo.
– Bom, tudo começou numa noite estranha, a noite anterior ao primeiro dia de aula…
E o menino do tempo contou tudo sobre aquela noite, mais especificamente sobre aquela gota brilhante e cósmica.
– Gota brilhante? Foi o que aconteceu comigo lá na floresta.
– Sim, bom, aparentemente essa gota dá poderes estranhos.
Lucas concordou, lembrando que havia conseguido ressuscitar seu pai com aquelas chamas de fogo.
– Sim, isso explica um pouco o seu poder de viajar no tempo.
Melissa deu um pulo ao ouvir, ficando em pé.
– Você teve outras viagens além daquela da sala de aula?
– Sim, vou chegar lá. – Respondeu Yan sorrindo.
– Mas espera, como que o Lucas sabe disso se você está contando isso agora?
Lucas e Yan ficaram sérios.
– Bom, meu pai me contou lá na floresta e, segundo ele, os portadores de dons compartilham esses conhecimentos.
Um pouco mais aliviada, Melissa sentou-se e suspirou.
– Continue, Yan. – Disse ela.
– Continuando, no dia seguinte, teve o primeiro dia de aula... Primeiro, quero que vocês me digam do que lembram.
Sem entender, começaram a tentar se lembrar.
– Bom, lembro da aula da Iliana e das seguintes. – Disse Melissa.
– É, eu também. – Concordou Lucas.
– Lembram-se do que conversamos na aula dela? – Perguntou Yan.
– Espera, foi sobre lendas… sobre as essências do quê mesmo? – Perguntou ela.
– Da origem, da origem do universo. – Respondeu Lucas.
Yan assentiu e começou a contar tudo sobre aquele dia, a bomba, a viagem no tempo e tudo mais.
– A Alice estava com você? Na hora da viagem? Essa parte você não me contou – Perguntou Melissa.
– Bom, acho que isso não foi real, eu nem conversava com ela.
– Faz sentido. – Respondeu ela.
– E sobre a bomba, eu lembro que teve um murmurinho que você estava dormindo e acordou perguntando de uma bomba. – Disse Lucas
– Sim, não sabia que estavam comentando sobre isso.
– A escola toda comentou e ainda comenta. – Revelou Melissa.
Yan deu de ombros e continuou dizendo que desde aquele dia não havia tido mais crises e que tinha achado que tinha perdido o poder, também lhes contou sobre as viagens na festa.
– Você viajou no tempo quando estava na festa? – Os dois perguntaram em uníssono.
– Sim, duas vezes. – Respondeu ele.
– Como foi isso? – Perguntaram.
O menino do tempo continuou dizendo que estava tendo crise, mas que ainda não tinha acontecido nada, só que quando viu Lucas atacando aquele garoto não teve como resistir à viagem, então correu para o banheiro e de repente já não estava mais lá.
– Cara, você viu um padre jesuíta, um dos padres que catequizavam os índios, muito legal! Você voltou às origens da cidade. – Comentou Lucas.
– Eu entendo a preocupação dele agora, de que vocês fazem parte de algo maior, e que de alguma forma essa cidade tem a ver com a origem do universo. – Disse Melissa.
– Sim, Mel, mas saiba que você também faz parte disso de alguma forma, afinal, nós três temos sonhos com quem supomos ser o criador de tudo isso. – Respondeu Yan.
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