Capítulo XXV – Origens
Guatacape, São Paulo, Brasil
19 de fevereiro de 1922
Na história contada por Tomás Belmonte, professor de Yan e dos outros, há algo ainda a ser contado, os bandeirantes procuravam por algo além dos metais preciosos, algo que não entendiam com muita clareza. A igreja sabia da existência de algo no universo, algo que se estivesse em mãos erradas seria um perigo para o mundo.
A igreja escondeu esse segredo por muito tempo e escondeu muito bem durante a Idade Média, afinal, boa parte da população da Europa naquela época era analfabeta e só padres tinham acesso aos documentos. Assim, por serem escritos em latim, eles eram os únicos que podiam ler e ensinar sobre as escrituras.
Entre esses documentos existiam alguns que possuíam teorias de algo natural no mundo que poderia causar mudanças genéticas severas, mudanças que dariam poderes e habilidades para quem tivesse contato, algo que ainda não tinha sido visto ou descoberto, mas que era observado, durante a Idade Média, na morte de algumas pessoas, fazendo a análise de seus cadáveres.
Tendo parte do acervo destes registros, sobre seus desorganizados esboços o padre Enrico Floero, imigrante da Itália, tecia suas teorias em sua escrivaninha no Mosteiro de São Francisco de Assis, em Guatacape.
– O que significa tudo isso? – Indagava-se frequentemente.
Havia descoberto nos documentos elementos cósmicos, semelhantes à água, rodeando a última atmosfera da terra e observou sua presença. Claro que secretamente, pois o chamariam de louco se soubessem de suas pesquisas não tão religiosas, seria, na opinião dos devotos, um herege. Na Idade Média, quem tentasse pesquisar sobre era morto, mas nesse momento nada poderia impedir tais pesquisas.
Ignorando tais pensamentos, em seu tempo livre entrevistou pessoas atingidas por esses elementos desconhecidos. Descobriu com as demonstrações de seus entrevistados três aptidões especiais, o controle sobre a Terra, o Fogo e Água. O único fato que o intrigava era a ausência do Ar entre os dons vistos.
– Não entendo. – Disse ele com um português bem falado.
Observou que tais aptidões evoluíram com o tempo. Nos primeiros registros, todos da Idade Média, havia algo assustador nos relatos das vítimas desses elementos cósmicos, toda e qualquer pessoa atingida morria dolorosamente.
Ao pensar em pessoas, Enrico também se lembrou de ter visto uma pessoa no dia anterior, mas não a viu com muita clareza, pois a pessoa apareceu e logo sumiu.
Entretanto, em questão de segundos, um vento soprou no lugar em que estava e tirou-lhe da reflexão. Ao olhar para trás não viu nada, mas quando se voltou viu algo que até seus olhos podiam duvidar: um anjo.
– Olá, meu nome é Maurício – Disse o recém-chegado tomando para si a forma de humano; o que era muito mais agradável para o assustado e dedicado homem que o via.
– Tudo bem, me deixa assimilar essas coisas. – Disse o padre, agora instável – Você é um anjo! O que faz aqui?
O anjo caminhou pelo local.
– Por ordem de Deus, vim ajudá-lo em suas pesquisas.
– Por quê? – Disse abrindo um sorriso e pensando se suas teorias estariam mesmo corretas.
– Isso mesmo. Suas teorias são reais, vou ajudá-lo na organização de tais descobertas.
– Como ajudará?
– Primeiro, explicarei o porquê de não existir portadores do dom do Ar.
O padre sentou-se em sua cadeira esperando respostas.
– O ar – começou Maurício – é o único elemento em todo universo que tem liberdade e não é palpável, caso fosse seria um caos.
– Por quê?
– Só a tentativa de exercer tal dom tiraria 70% do oxigênio do planeta. Não sabemos se foi pela vontade de Deus ou pelo acaso a origem dos dons, mas o poder do ar existe, porém, está banido e trancado em algum lugar que nunca saberemos.
Enrico sorriu.
– Muito obrigado, foi esclarecedor.
Maurício olhou os esboços.
– O que descobriu até agora? – Perguntou o anjo.
– Bom, até agora, o dom da Terra, do Fogo e da Água, e a existência de algumas realidades alternativas, porém, se existisse tal coisa deveria existir um local para organizar e administrar tais as realidades. – Respondeu ele.
– E existe, ele se chama “Mundo do Tempo”.
Enrico sorriu novamente, mas agora com mais fervor.
– E por que não existe acesso a essas realidades?
– Não é necessário acesso, seria um feitiço, algo tentador para os humanos, eles se prenderiam com tal coisa. Por isso meu superior guarda esse mundo.
– Espere um minuto, você tem algo em comum com o tempo?
– Sim, sou protetor dos portadores do tempo.
– O dom do tempo existe?
– Mas é claro!
E, em questão de segundos, algo parecido com uma chama de fogo desceu do céu e caiu sobre o mosteiro destruindo tudo, a única coisa que se sustentou foi a porta dupla que dava entrada ao local. Após a queda, misteriosos pedaços de diamante se espalharam pelo lugar. Um desses pedaços, um grande pedaço, atingiu a porta dupla do mosteiro abrindo-a violentamente. Ao abrir da porta, um vento muito forte sugou o padre para dentro e quando ela fechou, em vez de sair pelo outro lado, ele desapareceu.
Depois do caos, o anjo se levantou atordoado olhando a coisa que destruiu o lugar e sobressaltado disse:
– Mestre!
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